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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

LUNCH-in com Jair Tércio na Livraria Cultura Dia 22/2/2013 12:50 às 14:00


LUNCH-in com Jair Tércio
na Livraria Cultura
Tema: O Ser Humano em busca de si mesmo


Jair Tércio é o atual Sereníssimo Grão-Mestre da GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA BAHIA - GLEB, e Soberano Grão-Mestre da Grande Loja de Mestres Maçons da Marca do Estado da Bahia.
A maçonaria é uma sociedade fraternal de homens livres e de bons costumes, que acreditam em um princípio criador, respeitam a família e possuem o firme propósito de melhorar constantemente as suas virtudes.


Os maçons não fazem distinção de raça, religião, ideário político ou posição social. Organizam-se em lojas, que são células autônomas, todas iguais em direitos e honras.
O Brasil possui aproximadamente 150 mil maçons e 4.700 Lojas. No mundo são 6 milhões dos quais 58% estão nos Estados Unidos e 22% no Reino Unido.
Jair é engenheiro, educador, palestrante e coaching de líderes institucionais e executivos, compositor e escritor. Fundou 3 instituições educacionais, escreveu 34 livros propagados em Portugal, Espanha, Chile, África do Sul, França, Itália, Estados Unidos, Alemanha, Angola e Índia. Veja seu rico currículo.
Venha conhecer através do Sereníssimo Grão-Mestre um pouco do que a Maçonaria é e o que faz para melhorar a sociedade através da lapidação da pedra bruta que há nos homens.
Que o Grande Arquiteto ilumine a todos!
Confirme aqui sua presença e/ou envie perguntas
ou ligue para Srta. Thâmara Rezende: 2102-6969
thamara@consiste.com.br
(Vagas limitadas e sujeitas a confirmação por e-mail)



Dia 22/2/2013

12:50 às 14:00
começamos e terminamos 
no horário

Excepcionalmente na LIVRARIA CULTURA do Salvador Shopping


Ingresso:

2Kg alimentos não perecíveis para a LBV.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

‘O Vaticano ainda não está pronto para um Papa africano’

‘O Vaticano ainda não está pronto para um Papa africano’


Apontado como um dos favoritos para o Conclave, o cardeal de Gana, Peter Turkson, de 64 anos, tem poucas chances reais de ser o sucessor de Bento XVI. A explicação é de um bispo brasileiro com trânsito na Cúria Romana: ‘O Vaticano ainda não está pronto para um Papa africano’.

Em conversa com o Blog, esse mesmo bispo descartou as chances de outro nome citado também na lista de favoritos: o do cardeal-arcebispo de Nova York, Timothy Dolan, de 63 anos. “Dificilmente a Santa Sé atual abrigaria um Papa americano.” Para esse bispo, a forte tradição italiana da Cúria Romana demonstra resistência para a escolha de um Papa dos Estados Unidos.


fonte; G1-Gerson Camarotti 


Cometário: Barbara meller
19 fevereiro, 2013 as 15:57

O Espírito Santo não faz acepção de pessoas, seja homem ou mulher, branco, negro ou amarelo, americano, chinês ou angolano, mas essa instituição religiosa chamada ROMANA está cheia de preconceitos e tradicionalismos do homem, por isso coloca barreiras na escolha de seu lider, por mais espiritual e cheio da graça de Deus que seja, não serve…

domingo, 17 de fevereiro de 2013

DEEP WEB: A Internet proibida que ninguém conhece




Deep WEB é conhecimento, não crime!




Regularmente todos os internautas recorrem a mecanismos de busca como o Google para encontrar determinado site. Afinal de contas, a WEB é um oceano de informações, e para navegar por ela é necessário um índice que a organize. Entretanto, os mecanismos de busca são capazes de indexar menos que 1% de toda a Internet, segundo uma pesquisa feita pela Universidade da Califórnia. Ou seja, você navega ou já navegou apenas pela “praia”, mas ainda nem conhece o oceano.

Os mecanismos de busca não conseguem indexar nem mesmo todos os sites da “praia” (os sites visíveis), quanto mais da Deep Web. Isso porque estes mecanismos possuem algumas limitações impostas pelos próprios websites. Ou seja, um website pode escolher se aparece no Google ou não; da mesma forma, o Google pode escolher se um site aparece em seus resultados, de acordo com suas diretrizes. Na prática, sites que envolvam pirataria, cracker, terrorismo e todo tipo de atentado humano como canibalismo, pedofilia, necrofilismo e etc não aparecem em seus resultados, afinal todos constituem CRIME (pelo menos no Brasil).



No entanto, estes websites ainda existem na Deep WEB, um local restrito, perigoso de uma certa forma e pouco conhecido. A dificuldade no acesso começa pela própria natureza da Deep WEB. Para acessar, não basta uma conexão de Internet e um navegador comum como o Google Chrome, mas é preciso “entrar” nesta subrede através do navegador TOR.

Pelas poucas experiências que eu tive no submundo do Deep WEB, tive uma impressão: O lugar é realmente perigoso, sem nenhum exagero ou sensacionalismo. Lá se encontram os piores hackers e crackers do mundo, fora a quantidade de malware e vírus; todo o cuidado é pouco. O pior é quando o internauta cai na besteira de baixar algum conteúdo ilegal, por exemplo sobre pedofilia. Esses arquivos são constantemente rastreados pelas organizações investigativas de todo o mundo, inclusive a divisão de crimes virtuais do Brasil. Apenas 10MB transferidos já são suficientes para descobrirem de onde vem e para aonde vai, mesmo que a sua conexão esteja mascarada através de proxy ou surf (que é o caso do TOR). Óbvio que não é tão fácil assim, caso contrário não existiria crimes pela Internet.

Dentro da Deep WEB você verá todo tipo de conteúdo, eu particularmente busco conhecimentos na área hacker e segurança digital em alguns fóruns russos que eu encontrei. Nem adianta passar um link desse site aqui, pois http://4eiruntyxxbgfv7o.onion não é acessível de onde estamos, somente quem está dentro da rede TOR consegue acessar. 

Camadas de Acesso

Todos os domínios terminados em “.orion” e “.tor2web” fazem parte da primeira camada metaforicamente falando. Esta é a camada mais acessível dentro da rede TOR, onde os links são divulgados em buscadores próprios, sendo mais fáceis de serem encontrados. A segunda camada possui os domínios terminados em “.i2p”, neste caso os links não são facilmente encontrados e ainda são requeridos dados cadastrais válidos para serem acessados.

A camada mais baixa, também metaforicamente falando, possui os domínios terminados em “.onion”; neste caso são páginas encriptadas. Ao acessar, você verá apenas uma sequência lógica de algoritmos de criptografia, que só pode ser descriptografada com login e senha válido. Nesta camada surgem os vírus que  se espalham pela rede além de ser uma das principais bases da rede P2P, o PirateBay (uma versão negra do maior tracker do mundo). Para participar da terceira camada, você precisa ser convidado por alguém que já participa, dificultando o egresso de novos participantes. Trata-se de um grupo seleto, geralmente com conexões de Internet de alta velocidade (acima dos 100Mb/s).

O que é TOR?

TOR é o acrônimo de “The Onion Router“, um sistema desenvolvido para permitir o anonimato online. O software cliente TOR encaminha o tráfego da Internet através de um rede mundial voluntária de servidores, escondendo as informações do usuário e assim impedindo qualquer atividade de monitoramento.

O projeto nasceu no setor militar, patrocinado pelo Laboratório Naval de Pesquisas dos EUA e de 2004 a 2005, foi apoiado pela Eletronic Frontier Foundation. Atualmente o software é mantido e desenvolvido pelo Projeto TOR.

Explore esse mundo

A Deep WEB não é ilegal, pelo contrário. Ela sim é a Internet, ou pelo menos 99,3% dela que quase ninguém conhece. Mas deixo aqui algumas recomendações:

Não acesse o Deep WEB com o seu sistema operacional pessoal, prefira sempre acessar através de uma máquina virtual, recomendo usar a VmWare com Linux (Tails do GNU/LINUX já vem preparado para a Deep WEB) ou Windows através do navegador TOR;

Instale ou atualize o seu Antivírus e mantenha um bom Firewall protegendo a sua conexão (Nada de Firewall nativo do Windows, instale o COMODO Firewall);

Quando acessar o Deep WEB, entre no site que é conhecido como o “Google”, o The Hidden Wiki. Lá você encontrará o que procura.

Não baixe nada;  Não converse com ninguém;



Na Deep WEB eu encontrei muito conteúdo útil, existem até blogs pessoais por lá. Encontrei sites de compartilhamento de TCC, gabaritos de várias provas; além dos sites “normais” com filmes, clipes, fóruns e portais de notícia. A rede também possui muitos Hackers e Crackers, os melhores que existem. Não confie muito, toda segurança é pouco. E ao se aprofundar nas camadas, você irá encontrar coisas estranhas, como venda de armas e drogas, assassinos de aluguel e todo tipo de conteúdo ilegal. Se decidir entrar, tome cuidado.

Deep WEB é conhecimento, não crime! Claro, depende do que você está buscando nela. De qualquer forma, navegue com segurança e evite conteúdo ilegal. Mas não se preocupe à toa, conteúdos ilegais não são fáceis de serem encontrados, até porque não são acessíveis via HTTP, somente por FTPsw e VPN, ambos privados.



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

o trio logia

o trio logia

Davi Caires      

salvador, quarta-feira de cinzas, 2013.



na pipoca, atrás do trio de armandinho, depois de uma sequência machucadora que começou com chame gente e terminou com o bolero de ravel, o broder ao lado, vendo a apoteose instaurada, reflete em voz alta:
- e tudo isso começou com o pau elétrico...
naquele momento, as fichas caíram. verdade. a porra iniciou quando ligaram o pau na energia. aí fudeu! a casseta ganhou força, ficou frenética. irônico ser um falo eletrizado o símbolo máximo do carnaval de salvador. irônico e lamentável. logo me veio a imagem de um godzila em forma de uma piroca gigante andando pela avenida, pisando nos carros, mijando em todo mundo, mijando na cidade toda, gozando na cara dos foliões. nessa hora de profunda reflexão e visões surrealistas, surge na minha frente uma garota vestida de índia, com um cocar de penas brancas e de calça suplex azul cintilante. ela me diz alguma coisa. não houve tempo para a réplica. logo atrás veio um cara gritando:


- ó o geeeeeeeeeeeeeeeloooo!!!
eu dou um passo ao lado, permito o cidadão passar para não ter uma testa quebrada por uma barra de gelo. procuro pela índia. sumiu. apenas algumas penas brancas no chão comprovaram aquela aparição. a essa altura, as piriguetes (três por cinco) afetam meu estômago, fermetam meu juízo e apertam minha bexiga. hora de fumar um baseado. olha para o lado, olha para o outro. está limpo! não avisto os PMs. acendo o beque, dou aquele trago e, quando olho para cima, vejo uma camera me filmando, em uma grande grua, a alguns palmos da minha face. 

- caralho, tô na band!! 


apago o flagrante. acendo um careta. o som cessa e de cima do trio, armandinho conversa com os apresentadores da tv. o papo é chato. começa o desespero. nunca deveriam parar a música de um trio. seu coração está saindo pela boca e de repente para tudo e começa uma resenha morna e institucional. seu corpo e mente não entendem a súbita falta da pulsação e aí sim você fica doido, muito doido. suando rios, se contorcendo na avenida, ouvindo os batimentos cardíacos a ressoar pelos típanos e quando você pensa que vai desfalecer ali mesmo, o microfone do apresentador falha, o bloco é forçado a continuar seu trajeto, armandinho arpeja um acorde menor qualquer, a garota do cocar ressurge ao meu lado e me oferece uma smirnof ice, a procissão continua e tudo parece voltar ao normal. apenas parece, porque nada é normal nesse carnaval.

em um camarote, babacas uniformizados bisbilhotam a emancipação daqueles que pulam na pipoca. o trio toca “ besta é tu” em homenagem a essas pessoas que, temerosas em se misturar com o povo, deixam de viver a folia de rua para comer temaki de crem cheese em salões refrigerados. a onda da massa já havia passado, a um tempo, quando me apresentaram uma aguinha, aparentemente inofensiva, com um gosto levemente amargo. dei dois goles e só depois me falaram que havia cristais da felicidade díluidos ali dentro. bebeu água? tá com sede? não. apenas comecei a derreter. quando bateu a onda, tive mais uma visão esquisofrênica. imaginei que o trio de armadinho era a pedra sagrada de meca sobre rodas e todos nós éramos islâmicos moderados da santa causa da loucura. aquele trio é a matriz, é a origem é a gala filosofal desse imensa contradição que é o carnaval. e estar ali, acompanhando a família real, me faz, independente da águinha misteriosa, me sentir feliz. e de repente sinto uma vontade de chorar. mas logo passou. novamente, o lapso da imaginação é interrompido para dar asas à contemplação do presente. gritaria na avenida. a pipoca abre espaço. diversos homens do corpo de bombeiro correm e carregam uma senhora em uma maca. busco uma posição para enxergar o acontecido e consigo ver a cara da senhora. ela está rindo e dando gargalhadas. o que teria havido? como alguém aparentemente feliz pode estar sendo considerado como enfermo? me pego mais uma vez questionando a realidade. os bombeiros passam, a pipoca se organiza e eu mais uma vez me perco da garota. sinto falta de um sal. percebo o cheiro de carne queimando. guiado pela fumaça, avisto ao longe um churrasquinho de gato. deixo a avenida, atravesso um oceano de gente, passo entre uma briga de mulheres, enfrento aperto, falta ar. consigo atravessar a barreira, chego no churrasquinho, como dois espetinhos e ainda volto para a pipoca com a boca suja de farofa. antes de retornar, porém, procurei um carro de marca boa para mijar na roda. ao meu lado, e atrás de um outro carro de marca mais modesta, três meninas mijavam na rua. o cheiro de uréia invadiu a ladeira e nossos mijos se juntaram e escorreram pelas vias e pelas veias, e formou uma grande poça bem perto da onde se localizava a barraquinha do churrasquinho de gato. talvez tenha sido por essa razão que a carne estava tão macia. de volta à avenida e com a boca ainda suja de farofa, e mais perdido do que cego em tiroteio, encontro um celular no chão. já havia duas mensagens perdidas. uma dizia que aquele era o celular de glória e a outra dizia que caso alguém encontrasse o aparelho, que se dirigisse ao camarote tal, que a glória estaria na porta. pedi ajuda a um carregador de isopor de cervejas que fez de tudo para me explicar aonde era o tal camarote. ele apontava para trás e gesticulava bastante. perguntei-lhe se queria o celular e ele negou alegando que aquele modelo não tinha bluetooth. o que fazer? não dava para voltar atrás em plena pipoca. é que nem a vida. a pipoca é que nem a vida: não há como voltar atrás. pensei nisso algumas vezes e antes que eu pudesse registrar essa metáfora e viajar nessas subjetividades, alguém meteu a mão no celular e o roubou de mim e da glória. e pela quinta vez, as minhas reflexões foram abrubtamente interrompidas. por que será que é tão difícil pensar no carnaval?
o trio para no final do circuito e armandinho finaliza o concerto andante com “zanzibar”. a garota do cocar aparece again, pega de surpresa na minha mão e a gente canta junto: “ az de maracatu/ ali meu coração/ zumbiu no gozo dela/ ai, mina, aperta a minha mão/ alah, meu only you/ no azul da estrela”. acaba a música. e um longo beijo é sacramentado. finda-se a pipoca e o formigueiro se dispersa. uns sentam exaustos no chão, outros se abraçam, alguns voltam para a avenida, outros preferem comer yakisoba, sabor ajinomoto. convido a índia da calça cintilante para minha casa. vamos ao receptivo do carnaval atrás de dois moto-taxis. chegando lá procuro por moto-taxistas cujas camisas estivessem escritas a frase “ jesus é fiel”. me disseram que esses eram os melhores e mais seguros. não sou admirador de evengélicos mas naquela hora, naquelas circunstâncias me pareceu sensato voltar para casa na garupa de um crente. achamos dois: um com a frase “ jesus é fiel” e o outro “100% jesus”. pongamos nas referidas motos e aleluia irmãos. aos poucos as luzes e o barulho da folia ficaram para trás. a orla estava silenciosa. a madrugada despontava no horizonte. e em poucos segundos adentramos um novo universo. de dentro do capacete ecoava uma canção de caetano: “ e ainda a madrugada/nos saudou na estrada/que ficou toda/dourada e azul” ali, talvez por já ter me distanciado do epicêntro, pude refletir com mais sossego, sem a intromissão dos acasos momescos. nesse carnaval fiz uma peregrinação por algumas das pipocas mais emblemáticas desse ano. sai atrás de seis trios elétricos. não vi uma briga séria, um episódio triste, um roubo (o furto do celular de glória faz parte de trechos ficcionais desse relato), uma ação de violência contra as mulheres; não vi um PM abusando da autoridade; em nenhum momento me sentir apertado ou espremido nas pipocas. muito pelo contrário. não sei se tive sorte mais vivi momentos bem interessantes nesse carnaval de 2013. um salve geral ao baiana system, que são os decentendes mais autênticos, promissores e futuristas de dodô e osmar. moraes é moraes. o maior letrista e melodista do carnaval de salvador. com essa trinca de ás (arrmandinho/baiana/ e moraes) posso dizer que o meu carnaval foi originalmente incrível. existe ainda uma porção de coisas negativas sobre o carnaval. como disse antes, pensar durante o período do carnaval é uma tarefa árdua, então optei em usar o meu crédito-reflexão para pensar sobre as coisas legais. quando o carnaval se diluir na minha cabeça, eu reflito sobre o lado podre dessa festa.

meio dia do outro dia, acordo ainda anestesiado pela noite. o quarto exala um cheiro doce e na boca um gosto amargo. procuro pela índia de cocar e calça azul que havia dormido comigo. ela não estava lá. levanto da cama e percebo milhares de penas vermelhas espalhadas pelo quarto. não teriam sido brancas as penas do cocar da índia? qual teria sido seu nome? maria aparecida? maria de lurdes ?carmesita,? salete ou andréia? claro, claro. sabia que ainda estava faltando citar mais um mestre nesse relato. “amarradão na torre/ dar pra ir pro mundo inteiro, e onde quer que eu vá no mundo/ dá pra ver a minha torre/ é só balançar/ que a corda me leva de volta pra ela”

um salve a todos os foliões pipocas, aos verdadeiros trios independentes e às grandes paixões das nossas vidas.

e lembrem-se: o pau pode até ser elétrico, mas o triângulo é analógico.

cheguem com carinho.

salvador, quarta-feira de cinzas, 2013.

Davi Caires


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Como pode o mesmo trabalho receber a metade devido à terceirização?

14 de novembro de 2011 às 21:40

Marcio Pochmann: Como pode o mesmo trabalho receber a metade devido à terceirização?

por Marcio Pochmann, do Valor Econômico
Na virada do século XX, a avalanche neoliberal atingiu praticamente todos os países, cada um a seu modo. No âmbito do trabalho, por exemplo, o neoliberalismo atacou o desemprego gerado pela ausência do dinamismo econômico por meio da desregulamentação do mercado de trabalho.
Naquela época, difundiu-se equivocadamente que a solução única para o desemprego seria a ocupação da mão de obra com salário menor e direito social e trabalhista a menos. Ou seja, uma alternativa inventada que procurava substituir o desemprego pela precarização do trabalho.
No Brasil, a onda neoliberal a partir do final da década de 1980 não se traduziu em reforma ampla e profunda do marco regulatório do mercado de trabalho, ainda que não faltassem propostas nesse sentido. Mesmo assim, o fenômeno da terceirização da mão de obra terminou tendo efeito inegável, com remuneração reduzida à metade dos que exercem a mesma função sem ser terceirizados e rotatividade no posto de trabalho superior a mais de duas vezes.
Em síntese, a terceirização do trabalho ganhou importância a partir dos anos 1990, coincidindo com o movimento de abertura comercial e de desregulação dos contratos de trabalho. Ao mesmo tempo, a estabilidade monetária alcançada a partir de 1994 vigorou associada à prevalência de ambiente competitivo desfavorável ao funcionamento do mercado interno. Ou seja, baixo dinamismo econômico, com contida geração de empregos em meio à taxa de câmbio valorizada e altas taxas de juros. Frente ao desemprego crescente e de ofertas de postos de trabalho precários, as possibilidades de atuação sindical exitosas foram diminutas.
Atualmente, o trabalho terceirizado perdeu importância relativa em relação ao total do emprego formal gerado no Brasil, embora seja crescente a expansão absoluta dos empregos formais. Por serem postos de trabalho de menor remuneração e maior descontinuidade contratual, os empregos terceirizados atendem fundamentalmente à mão de obra de salário de base. Dessa forma, as ocupações criadas em torno do processo de terceirização do trabalho tendem a se concentrar na base da pirâmide social brasileira. O uso da terceirização da mão de obra tem se expandido fundamentalmente pelo setor de serviços, embora esteja presente em todos os ramos do setor produtivo.
Na passagem para o século XXI, o país perseguiu duas dinâmicas distintas na terceirização do trabalho. A primeira observada durante a década de 1990, quando a combinação da recessão econômica com abertura comercial resultou no corte generalizado do emprego. Na sequência da estabilização monetária estabelecida pelo Plano Real, que trouxe impacto significativo na redefinição da estrutura de preços e competição no interior do setor produtivo, o Enunciado 331 do Tribunal Superior do Trabalho estabeleceu os setores cabíveis à terceirização da mão de obra, concedendo segurança jurídica às empresas.
Nesse contexto, a taxa de terceirização registrou patamar inédito, passando de cerca de 10% do saldo líquido dos empregos gerados no estado de São Paulo no início da década de 1990 para mais de 90% no começo da década de 2000. Com salário equivalente à metade do recebido pelo trabalhador normal, os terceirizados avançaram sobre os poucos empregos formais gerados, sem que ocorresse redução da taxa total de desemprego – a qual saiu de 8,7%, em 1989, para 19,3%, em 1999, na Região Metropolitana de São Paulo.
Não obstante o apelo à redução do custo do emprego da força de trabalho estimulado pela terceirização, inclusive com o aparecimento de empresas sem empregados, em meio às condições da estabilidade monetária com altas taxas de juros reais e valorização do real, o sindicalismo reagiu evitando o mal maior. Mesmo diante de competição interempresarial mais acirrada, houve elevação da taxa de sindicalização, com avanço das negociações coletivas de trabalho e inclusão na legislação social e trabalhista.
A segunda dinâmica na trajetória da contratação de empregos formais ganhou importância a partir da década de 2000. Entre os anos de 2000 e 2010, a taxa de terceirização passou de 97,6% para 13,6% do saldo líquido de empregos formais gerados no estado de São Paulo. Nesse mesmo período, a taxa de desemprego caiu 28,5%, passando de 19,3%, em 1999, para 13,8%, em 2009, na Região Metropolitana de São Paulo. Apesar disso, o salário recebido pelo terceirizado continuou equivalendo apenas à metade daquele do trabalhador não
terceirizado.
Os sindicatos tiveram conquistas importantes, com maior organização na construção dos acordos coletivos de trabalho. A Justiça do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Emprego e Trabalho assumiram papel fundamental. Mas sem regulação decente da terceirização, parcela das ocupações permanece submetida à precarização no Brasil. Como pode o mesmo trabalho exercido receber somente a metade, por conta de diferente regime de contratação? Caso mais grave parece ocorrer no interior do setor público, que licita a contratação da terceirização da mão de obra pagando até 10 vezes mais o custo de um servidor concursado para o exercício da mesma função.
O país precisa virar a página da regressão socioeconômica imposta pelo neoliberalismo no final do século XX. A redução no grau de desigualdade na contratação de trabalhadores terceirizados pode ocorrer. Com a regulação decente a ser urgentemente estabelecida poderia haver melhor cenário para evitar a manutenção das enormes distâncias nas condições de trabalho que separam os empregados terceirizados dos não terceirizados.